Muito além das cifras, processos e produtos, o turismo Halal é um estilo de vida
Por Arthur Rodrigo Ribeiro*
O mais recente dado sobre o potencial turístico para a comunidade islâmica rendeu a cifra de US$ 192 bilhões ao redor do mundo - dados de 2017. De acordo com informações do consultor de turismo jordaniano durante painel Halal do Fórum Econômico Brasil & Países Árabes realizado pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira em São Paulo (SP), estimou um crescimento de 121,35% até 2020.
Dinâmico e comprometido com sua comunidade, o segmento é promissor e diversos países não-islâmicos embarcam nesta economia viva composta por aproximadamente 1,6 bilhão de consumidores que movimentam US$ 2 trilhões ao ano, o que inclui consumo de alimentos, cosméticos, finanças, entre outros.
Ao todo o turismo islâmico conta com 130 destinos com enorme procura ao redor do globo, sendo 48 de origem islâmicas e 82 não-islâmicas. Entre os países não-islâmicos os dez primeiros, de acordo com o anuário da Crescent Rating, estão: Singapura, Tailândia, Reino Unido, Japão, Taiwan, Hong Kong, África do Sul, Alemanha, França e Austrália. Ainda, de acordo com o estudo, em 2018, a Ásia liderará o rankig de viagens Halal. Destinos como Cingapura, Tailândia, Japão e Coreia demonstram um elevado interesse pelo turismo Halal.
O Japão, por exemplo, país não-islâmico, investiu neste mercado como uma excelente opção de negócios, dado aos importantes eventos esportivos que ocorrerão nos anos sequentes.
Com uma população islâmica residente estimada entre 100 a 200 mil, o Japão se tornou um país que adequou sua estrutura para não apenas atender seus domiciliados, mas também receber visitantes islâmicos. Em 2004 o número de turistas mulçumanos era de 150 mil, passando para 700 mil em 2016 e como previsão para 1,4 milhão de pessoas até 2020, de acordo com dados da Crescent Rating.
Para dar uma ideia sobre a projeção deste crescimento, ao longo deste tempo, as empresas japonesas estão cada vez mais conscientes do potencial global do mercado e estilo de vida islâmico. Assim, o país desenvolve programas de aprendizagem visando a educação sobre as necessidades dos consumidores da comunidade islâmica.
Basta olhar para a rede de restaurantes japoneses. Atualmente, 800 delas se autopromovem “amigos dos mulçumanos”, no entanto, apenas 150 contam com certificação Halal.
Aliado ao quesito consumo, o Japão também volta seus investimentos para locais destinados para a oração, as mesquitas. O número cresceu de 86 em 2013 para 99 em junho de 2017. Hoje, locais destinados para essas atividades podem ser encontrados nos principais aeroportos, como o de Haneda e os internacionais de Narita e Kansai, centros ferroviários como a estação JR Tokyo e JR Osaka, além de shopping centers japoneses.
Adicionalmente, o mercado Halal japonês deverá ser avaliado em US$ 1 bilhão até 2020, isso devido às Olímpiadas e Paraolimpíadas de Tóquio. Este último provou ser o destino mais equipado para viajantes mulçumanos, considerado pela pesquisa da Crescent Rating, cidade líder para o turismo Halal. Todavia, espera-se que o consumo migre das grandes cidades para áreas de provinciais que demonstram potencial para prestação de serviços.
O último estudo da Crescent Rating aponta que o turismo Halal japonês representa de 3 a 3,5% dos destinos de viagens para a região sul da Ásia, acompanhado por Indonésia (27%), Malásia (23%) e Singapura (5%).
Vale lembrar que há crescente busca por produtos Halal pelos não islâmicos devido a segurança e garantia proporcionado pelo sistema de inspeção.
Por outro lado, ainda que no Brasil haja um gap no quesito turismo Halal quando comparado aos países da Ásia que investem neste mercado, há esforços para que este jogo vire. Conforme explica o CEO da Siil Halal (Chapecó/SC), uma das mais importantes certificadora para produtos Halal no Brasil, Chaiboun Darwiche: “Falta visão para investimentos no Brasil. Precisaríamos de um marketing atuante para que posteriormente pudéssemos divulgar todo o potencial deste mercado, a exemplo Tailândia, hoje com uma forte propaganda no turismo Halal.”, analisa.
O executivo destaca que a Siil Halal acompanha o crescimento do turismo Halal, mas para isso faz ressalvas: “Precisamos adequar por exemplo os aeroportos nacionais, a logística, a alimentação, hotéis, hospitais, etc.” e lembra que a Sill Halal está preparada para este desenvolvimento em solo nacional por meio de sua expertise de mais de dez anos na certificação e assessoria de empresas, entidades de classe e governo para alavancar o turismo Halal no Brasil.
*Arthur Rodrigo Ribeiro é jornalista profissional, diretor da Agência de Comunicação & Marketing Giracom e assessor de comunicação e marketing da Siil Halal.