Empresa Al Nassma, de Dubai, fabrica e exporta chocolates de alta qualidade feitos com leite de camela. Produtos são comercializados principalmente em aeroportos. Marca procura parceiro para entrar no mercado brasileiro.
Por trás da porta de uma das indústrias da zona franca Dubai Oasis Silicon, o cheiro é convidativo e agradável. A visão também. Uma máquina mistura o líquido escuro brilhante que vai se tornar chocolate, outro equipamento gira no ar fôrmas nas quais a massa marrom seca e mãos ajudam os tabletes a ganharem invólucros dourados. Seria apenas uma fábrica de chocolates finos bem instalada e organizada, se não fosse o principal ingrediente: o leite de camela.
A Al Nassma é uma empresa dos Emirados Árabes Unidos que está ganhando mercado mundo afora com a fabricação de um produto que une a tradição local, a produção do leite de camela, com o luxo que caracteriza a vida e o turismo no país. Da unidade industrial da companhia, em Dubai, saem cerca de 100 toneladas por ano de chocolate de leite de camela, fabricação alimentada pelo leite gerado a cerca de 15 quilômetros dali, em uma fazenda com seis mil camelos.
Os chocolates vão principalmente para lojas em aeroportos e delas ultrapassam fronteiras nas malas de asiáticos, europeus, americanos e todos os que querem sair do Oriente Médio levando algo bem simbólico da região. Quem não gostaria de desembarcar no seu país vindo de Dubai com presente sofisticado que tem como ingrediente um alimento originário do animal do deserto e símbolo da vida beduína?
A reportagem da ANBA visitou a fábrica da Al Nassma e conversou com o gerente geral Martin van Almsick (foto acima), um estrangeiro entusiasmado por chocolates. “Quando começamos, há dez anos, nem todos estavam convencidos de que era uma boa ideia vender chocolates de leite de camela”, afirma ele. Mas havia uma fazenda de propriedade do governo com o leite disponível e profissionais do ramo de chocolate dispostos a apostar na ideia. Aí surgiu a Al Nassma.
Martin conta que ninguém fazia chocolate de leite de camela antes da Al Nassma. “O leite de camela está aqui há séculos e as pessoas daqui conhecem seus valores e propriedades especiais. É um leite muito saudável. Então as pessoas [da área] de chocolate vieram e começaram a conversar”, relata ele. A expertise de como precisava ser o leite de camela para uso no chocolate e como seria essa produção foi desenvolvida pela empresa.
O processo de produção não parece cheio de segredos. Uma máquina grande mistura os ingredientes, outras despejam a massa nas diferentes fôrmas, outro equipamento gira as fôrmas para que o chocolate seque, e nesse caminho há outras etapas como a passagem por uma máquina que detecta se ficou algum resíduo no produto, a permanência do chocolate na refrigeração, o ajuste do conteúdo nas formas para que o tablete fique retilíneo, entre outras.
Na fábrica há muita mão humana, como no corte em tirinha das tâmaras que estarão em alguns chocolates, na embalagem, no encaixotamento, na passagem de uma etapa para outra, etc. Martin conta que a equipe é composta por pessoas de vários países, entre eles Índia, Sudão, Indonésia, Etiópia, Quênia, Alemanha. O próprio Martin é alemão e caminha pela fábrica falando amistosamente com os funcionários.
O produto da Al Nassam é vendido em vários formatos, como tabletes, camelos, pequenos pedaços que lembram bombons, em embalagens diversas. Nos aeroportos dos Emirados o mais comum de encontrar são as caixinhas quadradas, cuja textura e cor da tampa imita couro de camelo, com nove ou dezoito pequenos chocolates dentro. Mas seja o tablete, seja a caixinha, o produto é embalado em papel fino e brilhante, sempre em estilo premium. A parte interna das caixinhas é toda dourada, assim como uma parte externa, e elas levam como toque final um laço em fita marrom. Al Nassma está escrito em dourado.
O tablete pode ser comprado no varejo em Dubai por cerca de US$ 7. É a opção mais barata. A alternativa mais cara é uma caixa feita de madeira com 18 chocolates dentro em sabores como macadâmia, mel revestido com creme ou simplesmente ao leite. “É um verdadeiro presente real. Se você quer impressionar a sua sogra, é o que escolheria”, brinca Martin. O gerente geral avalia que o chocolate da Al Nassma é acessível, apesar de ser um produto especial. “Não é para todos os dias, é para o domingo – ou para sexta-feira”, diz. Sexta-feira é final de semana nos Emirados.
A Al Nassma vende sua marca principalmente no varejo de viagem, que são os duty frees, e em lojas gourmet, pontos de venda de alimentos finos, no Brasil chamados de empórios. O grande mercado da empresa é o Oriente Médio, principalmente aeroportos de Abu Dhabi, Dubai e Sharjah, Mascate (Omã) e Arábia Saudita. Mas a marca também está em países árabes como Marrocos e Egito, e em outras partes do mundo, como União Europeia, Japão, China e Estados Unidos.
No Brasil, os chocolates da Al Nassma só chegam por meio de turistas que os compram em outros países, mas a empresa quer entrar no mercado local. “O que precisamos é de um parceiro que realmente entenda a nossa história, que entenda a qualidade do nosso chocolate e porque ele é especial”, afirma Martin, sobre a necessidade de oferecer o produto como premium, ao lado de outras marcas desse perfil, de azeitonas, cafés especiais, entre outras. O gerente afirma que não tem pressa de vender no Brasil e que o mais importante é encontrar o parceiro que entenda o produto e tenha os clientes certos, que valorizem o chocolate.
A Dubai Exports, órgão que promove as exportações do emirado, tem a Al Nassma como associada e está trabalhando, por meio do seu escritório em São Paulo, para colocar os chocolates da marca no mercado brasileiro. Os produtos já foram apresentados na feira Apas Show, mostra do setor de supermercados em São Paulo.
O chocolate de leite de camela feito pela Al Nassma não leva óleos e nem produtos químicos, é feito apenas com produtos naturais, segundo Martin. Ele tem sabor diferente do feito com leite de vaca, já que o leite de camela tem a metade da gordura do primeiro. Ao mesmo tempo, o leite da camela tem sabor mais salgado, que se reflete no sabor do chocolate. “As pessoas que conhecem um pouco de chocolate o avaliam como um produto premium de alta qualidade”, afirma o gerente geral.
fonte: ANBA