A 7ª Conferência Internacional de Ciência, Indústria e Negócios Halal, realizada na Tailândia nos últimos dias de 2014, trouxe à tona diversas informações importantes sobre um dos aspectos que mais têm crescido no segmento turístico mundial: o turismo halal. Palestra específica sobre o tema e a estrutura demonstrada pela Tailândia – país de maioria budista – para o receptivo aos muçulmanos chamaram a atenção do especialista em mercado halal, Chaiboun Ibrahim Darwiche, diretor executivo da empresa Serviço de Inspeção Islâmica - Siilhalal, único representante de empresa certificadora halal do Brasil a participar do evento.
Segundo Darwiche, a palestra trouxe informações sobre o crescimento do chamado Turismo Halal e sobre as demandas a que os países que pretendem receber este público precisam estar atentos. O segmento turístico, que já havia despertado a atenção dos europeus e teve congresso específico em Sevilha, na Espanha, em agosto passado, gerou 112.900 milhões de euros – cerca de 353.250 milhões de reais, em 2013. O valor equivaleu a 13% do gasto global em viagens, representando um crescimento de 4,7% acima do restante do turismo mundial. Estudos indicam que, até 2020, 14% por cento das viagens internacionais serão realizados por turistas muçulmanos.
O especialista conta ainda que observou, durante sua estada na Tailândia, diversas conveniências para atender aos turistas muçulmanos, tais como, placas de identificação em locais apropriados aos muçulmanos, desde os aeroportos - apontando espaços específicos para as orações e alimentação - até os supermercados, identificando o setor específico para os produtos halal. Os guias turísticos tailandeses informam durante o tour com os grupos onde há locais adequados para as paradas dos islâmicos, com espaços apropriados às cinco orações diárias, à higienização que precede o ritual e à alimentação halal, que condena qualquer resquício de carne suína ou álcool na preparação dos alimentos e bebidas e exige dos restaurantes e hotéis uma série de adequações e a certificação por empresas devidamente habilitadas.
A Malásia é o país que melhor representa a organização turística para atendimento ao turismo muçulmano, servindo como modelo para o restante do mundo. África do Sul e Rússia também se destacam em termos de acomodações, destinos e alimentação halal. Esta última, com o crescimento da população muçulmana local, hoje estimada em 20 milhões, passou a exigir também na importação de alimentos, como a carne de frango brasileira, o selo de certificação halal, uma vez que a certificação é vista também pelos russos não-muçulmanos como sinônimo de qualidade.
França, Itália, Inglaterra e Alemanha são os destinos mais procurados na Europa, segundo apontou pesquisa de mercado feita junto a muçulmanos dos Emirados Árabes Unidos, da Malásia e da Arábia Saudita. A realização da Conferência na Espanha, no entanto, serviu para acordar o país sede e o mundo para o crescimento do mercado consumidor islâmico de maneira geral – um universo de 1,8 bilhão de consumidores.
Halal é um conceito global que se refere ao conjunto de práticas e condutas consideradas lícitas – permitidas e saudáveis – perante a lei islâmica. O especialista revela que o crescimento do turismo halal na Europa, Ásia, na África, e em países como Estados Unidos, Japão e Austrália, vem projetando reflexos no setor turístico brasileiro, onde começam a surgir iniciativas para atrair os muçulmanos. No Rio de Janeiro, por exemplo, uma rede de hotéis está finalizando estudos de viabilização para as providências necessárias à certificação halal. Entre elas, adaptações na cozinha e no local de refeições para preparo e disposição em separado dos alimentos halal, higienização rigorosa para que não haja resquícios de carne suína ou de bebida alcóolica na cozinha, a disponibilidade no hotel de um local voltado para Meca para realizar as orações, no quarto um Alcorão, e no frigobar, apenas alimentos com certificação halal.
Conforme justificou o britânico AnasKasak, promotor da Conferência na Espanha e especialista em marketing étnico, a população muçulmana está crescendo, é jovem e dispõe de uma renda maior, compra cada vez mais e quer destinos de férias e acomodações que combinem com suas crenças. Entre eles, locais onde os cardápios incluam carne de animais abatidos segundo a lei islâmica, piscinas e praias exclusivas para mulheres, várias opções de bebidas não alcoólicas e facilidades para os momentos de reza. O Brasil, hoje ocupando a 6ª posição na economia mundial, precisa abrir os olhos para esse público ávido pelo consumo e aberto a importantes relacionamentos comerciais.
Jeanine K. B. Guedes - Assessora de Imprensa da SIIL Halal