No início do ano, a região de Flandres, na Bélgica, proibiu o abate de animais sem atordoamento prévio, o que reacendeu um velho debate que envolve ONGs de defesa do bem-estar animal, ideologias políticas e liberdade religiosa, já que a medida afeta diretamente os mercados consumidores de carne kosher e halal, ou seja, judeus e muçulmanos, respectivamente. De acordo com as leis desses povos, os animais precisam ser sacrificados cumprindo preceitos da lei judaica e dos rituais islâmicos, o que muitas vezes vai de encontro aos métodos de insensibilização adotados pelos frigoríficos de alguns países europeus.
A boa notícia é que essas restrições podem favorecer a indústria de proteína animal brasileira, já que esse tipo de exportação, além de volume, tem valor agregado no preço. Atualmente, já somos o principal exportador de carne halal do mundo e o número de frigoríficos adaptados para o abate kosher no país deve dobrar nos próximos dois anos."
Além de Flanders, a região de Valônia também vai adotar a restrição aos abates religiosos a partir de setembro, e Bruxelas estuda fazer o mesmo. Fora a Bélgica, Noruega, Islândia, Suécia e Suíça também obrigam o atordoamento de animais antes do abate. Já Dinamarca e Finlândia exigem o atordoamento logo após a degola, o mesmo ocorre na Estônia. Na Alemanha e Áustria, os abates kosher e halal são permitidos apenas para abastecer os mercados internos, sendo vedada a exportação.
Caso a Polônia, um dos principais produtores de carne para o Velho Continente e que também estuda proibir o abate sem sensibilização animal, pare de produzir carne kosher e halal, a oportunidade para o Brasil ficará ainda mais clara, especialmente na esteira do recém firmado acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, que deve facilitar ainda mais as trocas comerciais com o bloco europeu.
Só para se ter uma ideia, no ano passado o Brasil exportou US$ 70 milhões (14 mil toneladas) de carne bovina para Israel. Número que poderia chegar a 20 mil toneladas. Enquanto o Chile (um dos países mais exigentes em relação à qualidade da carne) paga US$ 4,3 mil a tonelada de dianteiro bovino tradicional, o mercado kosher pagaria US$ 5,1 mil a tonelada.
O Egito, grande consumidor da nossa carne halal, por outro lado, paga em média US$ 3,4 mil a tonelada. Atualmente, segundo o consultor, existem 7 plantas de abate kosher no Brasil, 5 delas estão ativas. Nos próximos dois anos esse número deve chegar a 10, o que demonstra que os frigoríficos estão investindo pesado nesse segmento.
Frango na dianteira.
No caso da carne halal, o Brasil já saiu na frente com o frango. Nosso principal comprador – a Arábia Saudita – não tolera qualquer insensibilização dos animais na hora do abate. É aí que os nossos frigoríficos levam vantagem.
"tualmente, a Arábia Saudita importa 450 mil toneladas/ano de carne de frango halal brasileira. De carne bovina são outras 36 mil toneladas/ano. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), quase 50% das exportações de frango brasileiras em 2018 foram de produtos halal, somando 1,97 milhão de toneladas. Segundo Saifi, hoje existem 200 plantas frigoríficas no país adaptadas para esse tipo de abate.
Fonte: Gazeta do Povo/Adaptado redação Siil Halal