O frigorífico Remanso, do interior da Bahia, pretende começar a produzir em breve copas e presunto cru com carne de ovinos, utilizando tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A companhia foi recentemente selecionada em edital público para receber a transferência do know-how desenvolvido pela Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, no Rio Grande do Sul.
“Nosso frigorífico fica na região que tem os maiores rebanhos de caprinos e ovinos do Brasil”, disse à ANBA o diretor da empresa, José Porphírio. Sob a marca Cabra Bom, a companhia produz atualmente cortes in natura de carnes destes animais e fornece principalmente para o estado da Bahia. Com os novos produtos, porém, a ideia é chegar a outros mercados do Nordeste, além de São Paulo e Brasília.
“Surgiu esta oportunidade na Embrapa e participamos da licitação”, contou Porphírio. “É um excelente produto para agregar ao nosso portfólio”, observou.
A Embrapa desenvolveu com carne de ovinos uma linha de alimentos que tradicionalmente são preparados com carne de porco. Um dos objetivos originais era aproveitar carnes com baixo valor comercial, como de animais mais velhos ou “de descarte”, segundo jargão do ramo, pouco apreciadas pelos consumidores quando consumidas frescas, mas boas para produtos processados.
Mas a iniciativa pode atender também nichos de mercado, como o de pessoas que têm restrições alimentares por razões religiosas, como os muçulmanos, que não comem carne de porco.
Segundo Porphírio, este é um nicho que pode vir a ser a explorado pela empresa no futuro, mas, por enquanto, seu volume de produção ainda não é suficiente para atender ao mercado externo.
Ele contou que foi procurado pelo representante de uma trading interessada em levar carnes para o Marrocos, na última edição da Fenagro, feira agropecuária que ocorre anualmente em Salvador, mas a conversa não foi adiante. As carnes de ovinos e caprinos são muito apreciadas no Oriente Médio e Norte da África. No Brasil, são consumidas principalmente nos estados do Nordeste e do Sul.
De acordo com ele, o frigorífico tem capacidade para abater cerca de 3 mil cabeças por mês, o que dá de 35 a 40 toneladas mensais de carne. De 20% a 30% dos animais vêm do rebanho da própria empresa, e o restante é fornecido por criadores da região.
A decisão de ampliar a capacidade de produção e a eventual prospecção do mercado externo vão depender da aceitação dos novos produtos. “É gostoso, mas precisamos testar o paladar do consumidor”, observou Porphírio. “Depende de como o mercado vai se comportar daqui para frente. Vamos precisar de um processo de divulgação, pois é um produto novo e é necessário abrir mercado para ele”, declarou.
Para fabricar o presunto e as copas, a companhia terá que construir um galpão específico para isso, e o processo de transferência de tecnologia tem que ser concluído. O executivo calcula que um galpão pré-fabricado deve levar de 30 a 60 dias para ficar pronto.
Se tudo correr como o planejado, ele acredita ser possível começar a produzir as copas comercialmente em setembro ou outubro deste ano, pois é possível utilizar, por exemplo, pedaços de carnes já disponíveis no dia a dia do frigorífico, como do pescoço de ovinos.
Os presuntos, no entanto, vão demorar mais, pois é necessário utilizar peças inteiras de pernil, e de animais mais velhos, pois têm mais gordura. Além disso, há o período de um ano de maturação.
Acompanhamento
A coordenadora da pesquisa na Embrapa Pecuária Sul, Élen Nalério, explicou à ANBA que, além da transferência de tecnologia, o processo de produção terá que ser adaptado para uma escala industrial, pois a estrutura utilizada no desenvolvimento dos produtos é pequena, e técnicos da estatal vão acompanhar esta fase.
“O produto tem que ser colocado no mercado num prazo de dois anos”, observou Nalério, referindo-se às condições do contrato. “A empresa habilitada poderá utilizar a marca da Embrapa”, acrescentou. Isso significa que o fabricante pode colocar na embalagem um selo informando que o produto foi desenvolvimento pela estatal de pesquisas, mas para isso tem que pagar royalties.
Fonte: ANBA